Com impactos na economia de inúmeras cidades gaúchas, a falta de chuvas não apenas traz dissabores para quem precisa da água em sua rotina, mas também afeta economicamente as cidades com as perdas na produção agropecuária.

A seca que atinge o Rio Grande do Sul desde o final do ano passado já é considerada uma das mais severas da história recente do Estado. Com impactos na economia de inúmeras cidades gaúchas, a falta de chuvas não apenas traz dissabores para quem precisa da água em sua rotina, mas também afeta economicamente as cidades com as perdas na produção agropecuária. Esse cenário pode ser comprovado nos dados divulgados, ontem, pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Se o Brasil terá recorde na produção de soja nesta safra, o Rio Grande do Sul terá perdas superiores a 40% com a cultura da oleaginosa.
Quebra de safra
Perdas que afetam produtores rurais como Valdir Leites que produz no assentamento da Associação Amigos da Terra, em Hulha Negra. Ao todo, no assentamento, vivem 62 famílias que trabalham com culturas diversificadas como soja, milho, leite, queijo, sementes, uvas, bovinos de corte. E os prejuízos foram acentuados para toda essa produção rural.  “A situação, este ano, foi bem feia. Os prejuízos momentâneos e futuros foram muito grande. A quebra de safras na agricultura e na pecuária é muito sentida”, declara Leites. Ele comenta que, em algumas localidades, não há nem água para o consumo humano. “E aqui vai ter que chover muito para normalizar e é coisa que a meteorologia não mostra. Mas vamos levando. Trabalhando fazendo aquilo que nos é possível. E apoio dos governos não se tem”, repercute Valdir Leites.
Menos de 300 milímetros em cinco meses
Em uma cidade com histórico de estiagens e secas mais severas, como a de 1989, Bagé já convive com o racionamento de água desde o dia 22 de março. Hoje, a medida já divide o abastecimento do hídrico na cidade em 15 horas para cada zona. A redução nas chuvas iniciou na região de Bagé no mês de dezembro. A Rainha da Fronteira teve até o dia 5 de maio, um volume de precipitação de 279,4 milímetros. Conforme o Departamento de Água, Arroios e Esgoto de Bagé (Daeb), o total de precipitação de segunda-feira a terça-feira, até as 9h de ontem, foi de 8,5 milímetros. Ou seja, o que choveu no município ainda é muito pouco para suprir o déficit, visto que os reservatórios estão em: Sanga Rasa (-6,60 metros); Pirai)-6,10 metros) e a Emergencial (-0,6 metros).
Camaquã em nível crítico
No interior do município, a situação também é dramática. Na região de Palmas, a moradora Ângela Márcia Colares relata que os produtores estão passando muitas dificuldades, pois os campos estão extremamente secos e os animais já não têm o que comer e quase todas as águas correntes estão paradas, detalha Ângela Márcia. “Inclusive, o arroio Lexiguana, principal afluente do Camaquã aqui na região, está cortado. A seca nos atinge de várias formas, uma delas é a falta de água para as necessidades básicas e para beber; uma vez que as cacimbas estão secando, diversos produtores sem água em casa, o que, inclusive, ocasionou o Daeb, com auxílio do Exército, a levar um caminhão com água para os moradores mais atingidos”, informou a moradora. 
Outra residente da localidade, Vera Marisa Scholante Colares, reitera que os animais estão sendo impactados pela falta de pasto para a alimentação devido à seca. “Muitos produtores estão levando ração para evitar a morte dos animais, o que causa um impacto financeiro muito alto na vida das famílias rurais. Ressalta-se que os pequenos produtores precisam de ajuda estatal para enfrentar essa crise extrema causada pela seca. Inclusive encontra-se pendente de sanção do presidente a inclusão dessa classe no auxílio emergencial, mas não há garantias de que sejam incluídos”, pondera a produtora. 
Preocupação com o inverno
Com a proximidade do inverno, os produtores ficam ainda mais preocupados com o agravamento da seca. Isso porque se os animais entrarem no inverno em estados corporais de magreza e fracos não conseguirão sobreviver às baixas temperaturas, condição ainda mais prejudicial com o registro de geadas, que queimam o já escasso campo nativo. “A noite passada (de segunda-feira) choveu um pouco na região, mas ainda pouco significativo para o quadro que se apresenta, cuja recuperação dependerá de muita chuva.  Em momentos assim, valorizamos ainda mais a existência do Rio Camaquã banhando nossos campos, pois é um rio perene, que embora correndo como ‘um fio d'água’, nunca interrompe seu curso. Inclusive abastece vários moradores costeiros têm o Camaquã como a única água para suas necessidades, ressalta Ângela Márcia.
As duas produtoras também são unânimes em apontar que a seca se continuar trará impactos para os consumidores. Na pecuária, com o estado das vacas bem aquém do ideal, haverá menos prenhes. “Nós precisamos de políticas públicas de construção de açudes como política de longo prazo. Isso para o próximo ano, mas, para este, seria de grande importância algum financiamento a juros zero, com carência longa e com desconto como incentivo ao bom pagador, como já ocorreu em outras estiagens, de modo que o produtor possa comprar alimentos para enfrentar o inverno e não haver mortandade de animais. A maior parte dos produtores está perdendo o sono, sem saber e sem ter como enfrentar o período de inverno”, afirma Vera.

Fonte: Jornal Folha do Sul

Data de publicação: 13/05/2020

Créditos: Jornal Folha do Sul

Créditos das Fotos: Divulgação

Compartilhe!